Lixão de Diadema desativado há mais de 20 anos é habitado por centenas de famílias

Essas áreas de lixões não poderiam ser habitadas por conta da instabilidade do solo e dos poluentes que estão nas camadas mais profundas.

Divisa de Diadema com São Bernardo. Foto: reprodução Pedro Diogo
Divisa de Diadema com São Bernardo. Foto: reprodução Pedro Diogo

DIADEMA –   Localizado em uma área de preservação ambiental às margens da Represa Billings, no Alvarenga em Diadema, no Grande ABC, o lixão foi fechado há 21 anos e oito meses, mas ainda se estuda como e que será cumprido o acordo para a remediação da área que por três décadas recebeu lixo residencial, restos de obras e até lixo industrial.

O reportagem do Repórter Diário mostra que no local há centenas de famílias, vizinhas a poços de extração de gás metano e outros de monitoramento de poluentes, no entanto, essas áreas de lixões não poderiam ser habitadas por conta da instabilidade do solo, dos poluentes que estão nas camadas mais profundas que podem trazer riscos de explosão e de doenças.

 Para a bióloga, ambientalista e docente da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Marta Marcondes, essa ocupação é um problema porque onde tem lixão tem acúmulo de gases e pode acontecer como foi na explosão do shopping de Osasco no ano de 1996, então, o risco é gravíssimo. “Que pode se fazer num local como esse é impedir a ocupação, criar um parque e plantar árvores”, disse a professora.

A professora disse que as prefeituras não se preocuparam em evitar a ocupação do terreno. “Faz mais de 20 anos que o lixão foi fechado, as ocupações não se deram do dia para a noite, elas foram gradativas”, comenta.

A ambientalista também se pergunta sobre o resultado da remediação da área. “Onde estão esses resultados? Como é feito o monitoramento que tem que ser diário, como é feito no Barão de Mauá?”, indaga a bióloga ao se referir ao condomínio construído na divisa entre Santo André e Mauá, sobre um terreno contaminado por resíduos industriais. No ano 2000 um homem morreu após uma explosão no subsolo. Ele fora fazer a manutenção do sistema de água e acendeu um isqueiro para enxergar melhor.

Ela afirma que os problemas de saúde podem ocorrer com a população que mora sobre o solo do antigo lixão, temor que afugentou vários moradores do Barão de Mauá. “As pessoas inalam poluentes o tempo todo, têm contato com o solo e já foi comprovado que nesses locais há um caldeirão de poluentes, são produtos químicos diferentes interagindo, o que a gente chama de poluentes persistentes. Eles podem trazer problemas gástricos, de pele, alguns tipos de câncer e problemas cardiovasculares”, diz a bióloga da USCS.

A professora disse que a  USCS vai receber em breve um novo equipamento que vai ser usado justamente para a análise de poluentes das águas. A USCS, através do IPH (Índice de Poluentes Hídricos) monitora regularmente a qualidade da água na Represa Billings e Marta Marcondes avalia que o equipamento será muito útil na margem do reservatório que fica mais próxima ao antigo lixão.

O Plano de Recuperação Ambiental do Lixão do Alvarenga, feito pela prefeitura de São Bernardo, datado de 2010, fala do TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) assinado entre as duas prefeituras e o Ministério Público para “recuperação da área do depósito de lixo ilegalmente instalado em área de proteção de mananciais da represa Billings, visando a imediata mitigação dos impactos ambientais, bem como a preservação e integridade física da população do entorno, a recuperação dos recursos hídricos da Represa Billings, mediante coleta e tratamento do percolado superficial e subterrâneo, e afinal, buscando a integração da área no meio ambiente urbano consolidado”.

A prefeitura de Diadema informou que mantém a área congelada para evitar novas ocupações. “A área citada faz divisa com a cidade de São Bernardo e, ao que compete ao município de Diadema, há fiscalização constante para evitar novas ocupações no terreno. Há uma comissão intersecretarial designada justamente para avaliar projetos e fiscalizar áreas de manancial localizadas em Diadema. Recentemente foi assinado um convênio com o Governo do Estado para reforçar a fiscalização em áreas de manancial”, informou o paço diademense.

A prefeitura de São Bernardo informou através de nota, que um complexo sistema de poços de extração de metano e outros de monitoramento está sendo instalado na área. “Está em andamento um amplo conjunto de obras de infraestrutura que visam desde a descontaminação do solo em local onde funcionou o Lixão do Alvarenga, instalação de rede de esgotamento sanitário, sistema de drenagem e pavimentação das vias na região do Jardim das Oliveiras, beneficiando cerca de 5.000 famílias.  Para isso, um sistema de extração de vapores do solo é responsável por remover metano e compostos orgânicos voláteis oriundos dos resíduos sólidos que eram depositados na área. Para isso, 123 poços de extração e 30 poços de monitoramento remoto estão sendo instalados em pontos estratégicos do bairro. A expectativa é que o processo de descontaminação seja totalmente concluído no período de cinco a sete anos, em conformidade com as exigências da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo)”, diz o informe.

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