Casa de Passagem da Mulher foi inaugurada em Santo André
A conquista vem após dois anos de lutas e muitos protestos.
SANTO ANDRÉ – A Casa de Passagem da Mulher Trabalhadora Carolina Maria de Jesus foi inaugurada, em Santo André, e é fruto da organização do movimento de mulheres Olga Benário. A conquista vem após dois anos de lutas.
Anteriormente, a casa funcionou por um ano em outro lugar que foi invadido, no entanto, o movimento sofreu uma ação de despejo, já que o imóvel era particular. Após negociação com a prefeitura de Santo André, em março deste ano entregou as chaves de um novo imóvel para o movimento, na rua Sebastião Pereira, 29, na vila Vitória, local onde antes funcionava o Conselho Tutelar II que foi para outro endereço.
“Ocupamos para denunciar o aumento da violência contra a mulher, principalmente durante a pandemia, e a carência de políticas públicas para atender a mulher. Foi para organizar e reivindicar que ocupamos os espaços. Foi durante esse ano que muitas mulheres nos procuraram, são aquelas que já passaram pela Casa Abrigo Regional, que já não correm mais risco de vida, mas não têm para onde ir”, explicou Larissa.
O novo espaço público oferece mais estrutura, diferente do outro prédio que não tinha fiação elétrica nem ligação de água. “Tudo tivemos que fazer com doações, mão de obra voluntária e dinheiro dos produtos que produzimos na Casa”, explica a representante.
Uma pesquisa realizada pelo Datafolha e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostrou que 47% das mulheres foram vítimas de assédio sexual, seja na rua, no trabalho, no transporte público e em eventos como festas. “Esses números cresceram muito na pandemia e a maioria das mulheres nada fez porque não acreditam nas instituições, não acreditam que a polícia possa resolver. Toda vez que uma mulher vai a uma delegacia que não é uma DDM (Delegacia de Defesa da Mulher), porque elas são poucas e não funcionam 24 horas no ABC, ela é revitimizada, porque tem que contar várias vezes a mesma história, revivendo a violência. Então como a demanda aumentou precisamos de mais serviços. Por isso a Casa tem uma equipe técnica que faz o encaminhamento dos casos”, diz a coordenadora.
A proposta da casa é ser uma referência, ser um local para palestra, atendimentos e eventos. Abrigar mulheres, por enquanto não está no escopo da Casa Carolina Maria de Jesus.
“A ideia é lutar para garantir os direitos das mulheres. Queremos que as mulheres acessem todos os serviços a que têm direito por isso criamos esse espaço”, finalizou a coordenadora.
Mais informações sobre a Casa da Mulher Trabalhadora Carolina Maria de Jesus podem ser encontradas na página da instituição: @casacarolina.ABC.
História e ocupações irregulares
O movimento iniciou com ocupação de um espaço abandonado, no dia 25 de julho de 2021, Dia da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha. O Movimento de Mulheres Olga Benario ocupou um imóvel abandonado na avenida Dom Pedro I, para reivindicar uma Casa de Passagem Regional para o ABC. A ocupação foi chamada de Carolina Maria de Jesus.
Aquela foi a 5ª ocupação de mulheres da América Latina e, atualmente, já existem 13 casas como essa espalhadas pelo Brasil. Segundo a coordenadora da Casa, Larissa Mayumi, o objetivo das ocupações é denunciar o alto índice de violência de gênero e organizar mais mulheres para lutar em defesa dos seus direitos, por mais políticas públicas de enfrentamento da violência, moradia, trabalho, educação e saúde.