São Bernardo pode ter mais alunos autistas do que disse ao Consórcio
O que chama a atenção é o fato de São Bernardo ter o maior número de alunos matriculados e o menor índice de crianças com TEA
SÃO BERNARDO – Levantamento feito pelo Grupo de Trabalho (GT) Educação do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, em agosto de 2022, mostrou que em um universo de 192.609 estudantes da rede municipal de ensino das sete cidades havia 6.573 com alguma deficiência, dos quais 3.137, ou 48% do total, são portadores de TEA (Transtorno do Espectro Autista).
O que chama a atenção é o fato de São Bernardo ter o maior número de alunos matriculados, com 73.662, e o menor índice de crianças com TEA, com 824, ou 38% das 2.165 que apresentam alguma deficiência.
Os números do município indicam subnotificação na avaliação do vereador Julinho Fuzari (PSC), ao apontar como causa a falta de neuropediatras na rede pública, o que tem prejudicado o atendimento e impedido a realização de consultas e de exames para emissão do laudo que comprova o TEA.
Os dados compilados pelo Consórcio foram encaminhados ao parlamentar no fim de junho, em resposta a um ofício no qual o vereador pedia à entidade para fazer um censo para mapear o número de pessoas com TEA nas sete cidades. “O levantamento mostra que existe uma preocupação do Consórcio em ter um quadro sobre pessoas com deficiência na região, o que me deixou muito satisfeito. E tenho de agradecer porque a entidade vai fazer um censo regional das pessoas com deficiência, o que inclui autistas. Isso é fundamental para que possamos discutir e traçar políticas públicas para esse público”, comentou ontem.
No caso do levantamento feito ano passado, o parlamentar é incisivo ao apontar a falta de neuropediatras na rede municipal de saúde de São Bernardo como responsável pelo que avalia ser um número subnotificado. O vereador lembrou, inclusive, que muitos pais e mães têm ido ao gabinete para denunciar que não conseguem consultas e exames para obter o laudo, documento sem o qual a criança não tem acesso a medicamentos e tratamento, além de não conseguir benefícios como o BPC (Benefício de Prestação Continuada), do INSS.
“A gente esperou dois anos para fazer a ressonância na rede, mas nunca foi marcada, o que é um absurdo. Ele precisa, por exemplo, fazer terapia todos os dias, com duração de 40 minutos cada, mas no CER (Centro Especializado em Reabilitação) só tinha vaga uma vez por mês, e de 20 minutos”, reclamou a mãe de Lucas, 3 anos, diagnosticado com o nível grave de TEA.
Outros pais, que não quiseram se identificar, relataram dificuldade para marcar consulta com neurologistas por falta de profissionais na rede, além de descaso nas terapias oferecidas pelo CER. “Ninguém fala qual é o grau de autismo do meu filho, a terapia dele dura 20 minutos a cada mês e fica por isso mesmo. A gente se sente perdido diante dessa situação”, comentou um dos pais.
Diante desse quadro, Julinho Fuzari fez representação junto à Promotoria da Infância e da Juventude do MP (Ministério Público) de São Bernardo para que seja apurada a falta de neuropediatras. Ele critica o prefeito Orlando Morando (PSDB) por ter deixado que a situação chegasse a esse ponto. “O prefeito não tem políticas públicas para autistas. E isso é lamentável.”