Dia Mundial de Conscientização do Autismo: a incidência do espectro aumentou?
Entenda como avanços no diagnóstico e conscientização estão mudando nossa percepção. Saiba mais sobre os diferentes graus do espectro autista e as causas genéticas subjacentes.
É comum falarem que os casos de autismo estão aumentando. Será que é isso mesmo? De acordo com o biólogo Paulo Jubilut, professor no Aprova Total, no ano 2000, os Estados Unidos registravam um caso de autismo a cada 150 crianças observadas. Já em 2020, houve um salto, esse número passou pra um caso a cada 36 crianças. Esse aumento fez com que, por muito tempo, as pessoas pensassem que tava acontecendo uma “epidemia de autismo”.
“Na verdade, isso não quer dizer que os casos de autismo tão aumentando, e sim que os diagnósticos tão melhores. Isso porque, no passado, só os casos mais extremos eram classificados como autismo. As outras pessoas, que tinham sintomas mais mascarados, eram simplesmente classificadas como “peculiares”, explica Jubilut.
Hoje em dia, o número de profissionais treinados para diagnosticar essa condição aumentou. E como esse assunto ficou cada vez mais popular, os pais e os professores agora percebem com mais facilidade as primeiras suspeitas de que as crianças são autistas. Há características como a dificuldade de comunicação e socialização, comportamentos incomuns, dificuldade de adaptação a mudanças na rotina e a seletividade alimentar que influenciam essa percepção. O biólogo explica que como cada caso tem as suas particularidades, é complexo colocar as pessoas em caixinhas.
“Em decorrência da variedade de espectros, a ciência dividiu os graus de autismo em 3. Alta funcionalidade, média funcionalidade, e baixa funcionalidade. Os primeiros, classificados na alta funcionalidade, muitas vezes têm prejuízos pequenos na comunicação, hiperfoco em interesses específicos como o caso da ativista Greta Thunberg, e, em alguns casos, problemas de organização. Já os casos com baixa funcionalidade têm prejuízos intelectuais graves, alta sensibilidade a sons e luz, fala limitada, comportamentos repetitivos, problemas motores, e mudanças de personalidade. E existe todo um universo entre esses graus extremos”, aponta o professor.
Há uma “causa” para o autismo?
A explicação mais aceita para o autismo hoje é a genética. Um estudo publicado em julho de 2019 analisou o histórico médico de mais de 2 milhões de crianças pelo mundo. E os resultados do estudo confirmaram que 99% dos casos de autismo podem ser explicados pelos genes. Esse mesmo estudo também descobriu que 1% dos casos podem ser atribuídos a acontecimentos na gestação do bebê. Fatores como complicações no parto, infecções durante a gestação, uso de alguns medicamentos e o contato com agrotóxicos são algumas variáveis conhecidas.
“Essas variáveis, isoladas, provavelmente não colocam ninguém no espectro. Elas só aceleram a taxa de expressão dos genes ligados ao autismo. Então, é preciso ter um pano de fundo genético pra que essas alterações aconteçam. E a genética do autismo não é uma coisa simples. Na verdade, ela é bem complicada, porque mais de mil genes já foram associados ao autismo. Desses 1000, 184 parecem ter uma influência maior. Isso porque as proteínas que esses genes codificam interferem na organização do cérebro”, enfatiza Jubilut.