Estado brasileiro pede desculpas a familiares de mortos durante a ditadura enterrados em Perus
O pedido de desculpa se refere a uma ação civil do estado de São Paulo sobre o tratamento dado aos remanescentes ósseos encontrados.

SÃO PAULO — O Cemitério Dom Bosco, localizado no bairro de Perus, na Zona Norte da capital paulista, foi palco de uma importante celebração na tarde da última segunda-feira (24).
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Administrado pela Cortel SP, no Dia Internacional pelo Direito à Verdade sobre as Violações dos Direitos Humanos e pela Dignidade das Vítimas, o Estado brasileiro se desculpou formalmente pela negligência da União.
Entre 1990 e 2014, na condução dos trabalhos de identificação dos restos mortais de mortos e desaparecidos políticos durante a ditadura, que se encontram na Vala Clandestina de Perus. O ato foi possível graças ao acordo judicial firmado entre a União, representada judicialmente pela Advocacia-Geral da União (AGU), e o Ministério Público Federal (MPF).
Entre outras autoridades, estiveram presentes na cerimônia Macaé Evaristo, ministra de Direitos Humanos, além de representantes dos órgãos envolvidos e da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos.

“É um momento muito triste, ao mesmo tempo, muito importante, porque a verdade é uma verdade que precisa ser revelada como justiça a todos os familiares, mas também para que a sociedade brasileira compreenda toda a violência que se cometeu em nome do Estado e para que a gente reafirme a democracia, nunca mais esqueça e para que nunca mais aconteça”.
O pedido de desculpa se refere a uma ação civil do estado de São Paulo sobre o tratamento dado aos remanescentes ósseos encontrados aqui, neste cemitério, em 1990, e que até 2009 não se tinha dado o tratamento adequado no sentido de prosseguir com as investigações devidas e os exames necessários para relacionar esses remanescentes ósseos com as vítimas. É um momento muito triste, mas ao mesmo tempo muito importante, porque a verdade precisa ser revelada como justiça a todos os familiares, mas também para que a sociedade brasileira compreenda toda a violência que se cometeu em nome do Estado e para que a gente reafirme a democracia, nunca mais se esqueça e nunca mais aconteça”, disse a ministra.
Presente no evento, Ricardo Polito, diretor de cemitérios da Cortel, reforçou a importância da ocasião. “Este ato público enfatiza a importância e a memória da Vala de Perus, um local onde opositores do regime militar foram enterrados clandestinamente. Nós, da Cortel SP, temos a responsabilidade de continuar preservando esta história”, afirmou.
Vala de Perus
Encontrada há quase 35 anos, em 4 de setembro de 1990, com 1.049 sacos com ossadas, todos sem identificações, o espaço se tornou símbolo das graves violações aos direitos humanos perpetradas pelo Estado, que enterrou corpos de pessoas indigentes, desconhecidos e opositores ao regime de opressão iniciado em 1964. A área somente foi aberta após o restabelecimento do regime democrático.
Sobre o Cemitério Dom Bosco
Localizado no bairro de Perus, zona norte de São Paulo, é conhecido por sua importância histórica e social. Inaugurado em 1971, o cemitério ficou marcado como local de sepultamentos coletivos, especialmente durante períodos críticos da história do país, como a ditadura militar, onde se registraram enterros clandestinos. Com uma área ampla e modesta, o cemitério é um espaço de memórias que resgata a luta por justiça e preserva a dignidade dos que lá foram sepultados.