Guarda da GCM é vítima de injúria racial na Câmara de São Bernardo
O diálogo foi gravado por uma câmera que fazia a transmissão da sessão.
SÃO BERNARDO – A agente da Guarda Civil Municipal (GCM) de São Bernardo, Evelin Dias, 34 anos, foi vítima de injúria racial durante a sessão da Câmara no último dia 19. Seu nome foi citado na conversa entre Christinilton Gally, assessor especial do presidente do Legislativo, Danilo Lima (PSDB), e por Donizeti de Souza, apresentador do podcast Kurtas e Pikantes, que proferiram falas racistas sobre ela.
O diálogo foi gravado por uma câmera que fazia a transmissão da sessão. O vídeo mostra os autores conversando sobre as mulheres do efetivo da GCM que atua no Legislativo.
“Tem uma morena também, qual é o nome dela?”, pergunta Donizeti, que depois ressalta que Evelin é uma pessoa preta. “Não é morena, é negra. Preta, aliás, não é mais negra também”. Em seguida, Christinilton cita uma sessão de fotos feita pelos novos agentes da Guarda Municipal e fala sobre o cabelo de Evelin. “Ela fez uma foto esses dias, desmontou o cabelo, ela tem aqueles tererê, né? Meu, o bagulho vai até o chão. E para cuidar dessa mer..?”, diz o assessor do gabinete da presidência da Casa.
Evelin recebeu o vídeo de colegas de trabalho horas depois do ocorrido, quando já estava em casa. Em 26 de abril, ela registrou Boletim de Ocorrência. “Eu me senti suja e insegura, embora ninguém da GCM nunca tenha falado nada sobre o meu cabelo. Sempre fui muito respeitada pela corporação, a única coisa que eles pedem é o coque, mas é padrão para todas as mulheres. Nunca havia feito trança em mim mesma, sempre que fazia era com outra trancista. Eu estava usando as tranças para recuperar minha autoestima, mas achei melhor tirar.”
Os autores da injúria racial entraram em contato com Evelin na semana seguinte. Christinilton pediu desculpas e disse que estava envergonhado do que falou.
Ao site Diário, Donizeti confirmou que ligou para Evelin, embora não tenha considerado a sua fala como racista. “Pedi desculpas caso ela tenha se ofendido. Mencionamos vários nomes e veio o nome da Evelin. E foi só isso, nada demais. Não sou racista, meu pai é negro”, declarou.
Evelin reforçou o incômodo com a descrição feita por Donizeti. “Me incomodou muito a forma como ele se sentiu à vontade de me descrever pela minha cor, ao invés de me chamar pelo nome, como fez com as outras pessoas citadas, que eram brancas, e sobre elas não teve debate de que cor ou etnia seria melhor chamá-las. Ele fez questão de decidir qualificar a pessoa preta. Eu gostaria que ele reconhecesse o que falou, para que não repita com mais ninguém”, finalizou em entrevista ao site Diário.