João Doria anuncia desfiliação do PSDB

A insatisfação de Doria nasceu após ele desistir de concorrer à Presidência, mesmo vencendo as prévias tucanas contra Eduardo Leite.

João Doria. Imagem: ISAAC FONTANA/ESTADÃO CONTEÚDO
João Doria. Imagem: ISAAC FONTANA/ESTADÃO CONTEÚDO

SÃO PAULO – Na manhã desta quarta-feira (19), o ex-governador de São Paulo, João Doria, formalizou sua desfiliação do PSDB após 22 anos. Em nota à imprensa, Doria disse ter “cumprido sua missão” na política.

“Encerro minha trajetória partidária de cabeça erguida, com minha missão cumprida, deixo meu agradecimento e o firme desejo de que o PSDB tenha um olhar atento ao seu grandioso passado em busca de inspiração para o futuro”, disse Doria.

O ex-governador desistiu de concorrer  à Presidência ainda na pré-campanha, atendendo a pressões internas do partido. Mesmo vencendo as prévias tucanas contra o ex- governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, a cúpula do partido decidiu que apoiaria Simone Tebet (MDB) no primeiro turno das eleições, com a senadora Mara Gabrilli (SP) como candidata a vice.

 Em entrevista ao Uol, Doria declarou que  vota nulo no segundo turno.Ele deixou claro que não apoia o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nem o atual mandatário, Jair Bolsonaro (PL).

 “Não vou nem de Lula, nem de Bolsonaro. O meu voto será o da neutralidade. Meu voto será nulo. Não faço ataques nem a um lado, nem ao outro”, encerrou.

Leia a carta de Doria na íntegra:
Após 22 anos da filiação ao PSDB e seis anos de uma dedicada e intensa trajetória como
prefeito de São Paulo e governador do Estado, comunico que formalizei junto ao
diretório estadual do PSDB o meu desligamento do partido. Inspirado pelas ideias e
virtudes de nomes como Franco Montoro, José Serra, Mário Covas e Fernando
Henrique Cardoso, busquei cumprir uma missão política e partidária pautada na
excelência da gestão pública, num Estado menor e em favor de uma sociedade mais justa
e menos desigual.
A omissão, a letargia e o imobilismo jamais fizeram parte da minha vida. Não cruzei os
braços ao encarar problemas que afligem São Paulo e o Brasil. A exemplo de minha
conduta como empresário, preferi encarar os desafios da vida pública com
determinação, foco e resiliência.
Enquanto alguns atores da política se omitiam durante a mais grave pandemia dos
últimos cem anos, lutei desde o início para que nosso povo tivesse acesso a uma vacina
contra a Covid-19. Atuei, acima de tudo, pela defesa da vida e da saúde dos brasileiros.
Jamais cedi ao negacionismo ou a falsidades que contrariam a ciência. Tenho muito
orgulho do sucesso liderado por São Paulo que ajudou a salvar 124 milhões de vidas no
Brasil, que tomaram a vacina do Butantã.
Comandei gestões transformadoras e ousadas que deixaram conquistas, que agora,
pertencem ao povo de São Paulo. Entregamos o Novo Museu do Ipiranga, despoluímos o
Rio Pinheiros, multiplicamos por dez as vagas em escolas de tempo integral,
promovemos o crescimento econômico de São Paulo cinco vezes mais do que o Brasil,
geramos mais de 2 milhões de novos empregos, modernizamos mais de 11 mil
quilômetros de rodovias e ampliamos, substancialmente, o acesso a programas como
Poupatempo e Bom Prato. Unimos, de forma inédita, o poder público e iniciativa
privada em um Comitê Solidário que arrecadou mais de R$ 2 bilhões para combater a
fome e a carestia. E criamos o Bolsa do Povo, o maior programa de assistência social e
transferência de renda da história de São Paulo. Meu agradecimento ao Rodrigo Garcia
e à brilhante equipe que tivemos no governo de S. Paulo.

Reconhecido até por nossos adversários, o ótimo trabalho do PSDB na Prefeitura de São
Paulo e no Governo do Estado permitiu a reeleição, em 2020, de meu querido e saudoso
amigo Bruno Covas, para um novo mandato à frente da mais importante metrópole da
América do Sul. Infelizmente, Bruno nos deixou cedo demais.
Não cedi a pressões e me mantive firme na defesa dos valores sociais e democráticos que
aprendi com meu pai, um político cassado e exilado pela ditadura militar em 1964. Vencí
todas as eleições das quais participei. Por três vezes fui eleito em prévias partidárias
pelo voto soberano da maioria dos filiados do PSDB. Fui eleito no primeiro turno para
Prefeito da capital paulista, em 2016. E em 2018 vencí a eleição para o governo de São
Paulo. Sou e sempre serei um homem que se pauta pelo equilíbrio, diálogo, consenso e
gratidão.
Encerro minha trajetória partidária de cabeça erguida. Orgulhoso pela contribuição que
pude dar a São Paulo e ao Brasil, graças à generosidade e à confiança de todos aqueles
que optaram pelo meu nome em três prévias e duas eleições. Com minha missão
cumprida, deixo meu agradecimento e o firme desejo de que o PSDB tenha um olhar
atento ao seu grandioso passado em busca de inspiração para o futuro. E sempre em
defesa da democracia, da liberdade do progresso social.
João Doria

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