MP denuncia donos de escola e pede que funcionários sejam investigados em São Paulo
Os proprietários da escola poderão responder por crimes de tortura em caráter continuado e com concurso de pessoas.
SÃO PAULO – O Ministério Público denunciou, nesta segunda-feira (17), o casal dono de uma escola na Vila Mariana, na Zona Sul de São Paulo, acusado de praticar atos de tortura contra crianças. A promotora Gabriela Belloni pediu que a prisão temporária de ambos seja convertida em preventiva e que seja aberto um novo inquérito policial para apurar uma suposta participação ou omissão de funcionários da escola nos atos.
Segundo a denúncia, o casal contou com o apoio de duas subordinadas adolescentes para punir as crianças que não comiam o alimento oferecido, choravam muito ou não se comportavam da forma tida como adequada.
Ainda conforme o MP, os alunos eram levados a uma sala escura, sem janelas ou com janelas fechadas, onde eram mantidos de castigo, sem comer, beber água ou ir ao banheiro e com a porta de entrada fechada. “Algumas crianças choravam muito e pediam para sair ou, cansadas de ficar em pé, acabavam dormindo com as cabeças encostadas na parede, exaustas”, diz a promotora na denúncia.
Ainda de acordo com ela, os denunciados gritavam e eram agressivos com as crianças, repreendendo-as de forma ríspida. Outro castigo era amarrar a criança, com as próprias roupas, em um poste no pátio da escola.
Ao menos inicialmente, a Promotoria apontou a existência de dez vítimas. Os proprietários da escola poderão responder por crimes de tortura em caráter continuado e com concurso de pessoas.
A Justiça ainda irá analisar a manifestação do MP, assim como os pedidos feitos.
Relembre o caso
Os donos da escola particular Pequiá, no Cambuci, na Zona Sul de São Paulo, Eduardo Mori Kawano e Andrea Carvalho Alves Moreira, foram presos em 27 de junho.
Eles foram detidos após denúncias de maus-tratos e tortura contra alunos dentro do colégio. O casal prestou depoimento no 6º Distrito Policial (Cambuci). De acordo com o delegado do caso Fábio Daré, por terem sido identificadas nove crianças vítimas do casal, eles foram indiciados nove vezes por tortura. Cada uma das penas pode ir de 2 a 8 anos.
Daré, responsável pela investigação, afirmou que os registros de flagrante mostram “situações vexatórias”.
Os casos foram descobertos porque uma das professoras, depois de testemunhar cenas de maus-tratos e humilhações, conseguiu esconder o celular e gravar. Uma foto mostra um menino amarrado pela blusa em um poste e um vídeo mostra um dos alunos sendo humilhado na frente dos colegas por ter deixado escapar xixi na roupa.
Com as provas, ela procurou algumas mães de alunos e foi até delegacia do bairro. A professora relatou punições, humilhações e agressões impostas às crianças quando algo não acontecia como esperado pelos donos da escola. “Fiquei horrorizada. Chorei, chorei, não podia acreditar. Não dava para acreditar que estava acontecendo isso”, disse Carina Pereira, a mãe de uma aluna.
Ivan Luís Prior Pecchi e Tania Cellia Regis Recchi procuraram a delegacia. O filho deles têm 5 anos e estava matriculado no estabelecimento desde os 11 meses. Eles contam que os donos da escola tentavam impedir o contato entre pais e professores. “Faziam de tudo para gente não ter acesso, para não trocar informações. E com os professores eram a mesma coisa. A gente não podia ter acesso a nenhum professor.”
Em uma gravação, uma mulher grita para que uma menina de um ano e meio guarde os brinquedos. “As fotos e os vídeos que a gente tem não é nem metade das coisas que eles faziam. Eles gritavam muito com as crianças, tem até o quarto escuro, que muitas crianças falam e era praticamente um quarto de castigo”, disse a professora Anny Garcia Junqueira, que fez a denúncia.