Tarcísio manda R$ 150 milhões a São Bernardo e exalta regionalidade
O aporte foi confirmado em discurso durante a inauguração do Hospital da Mulher de São Bernardo.
SÃO BERNARDO – O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) anunciou ontem repasse de R$ 150 milhões para ajudar São Bernardo a fechar as contas da área da saúde – que corre o risco de colapsar. O dinheiro ajudará no custeio dos quatro hospitais municipais: HC (Hospital de Clínicas), Hospital de Urgência, Hospital Anchieta e o Hospital da Mulher. O aporte foi confirmado em discurso durante a inauguração do Hospital da Mulher de São Bernardo.
O repasse busca equilibrar a situação da rede de saúde do município, que acumula rombo de aproximadamente R$ 200 milhões. O Diário tem relatado inúmeros casos de crise no setor, que incluem demissões, filas nos atendimentos, falta de remédios, unidades fechadas, leitos fechados em hospitais, problemas estruturais e dívidas com fornecedores.
A urgência do socorro foi admitida pelo próprio prefeito Orlando Morando (PSDB) ao dizer, durante a inauguração do novo equipamento, que “o município não consgue manter os hospitais sozinho”, mesmo com a Secretaria da Saúde tendo um orçamento de R$ 1,2 bilhão no exercício de 2023. Responsável pela Pasta, o secretário Geraldo Reple Sobrinho também reconheceu que o repasse anunciado por Tarcísio trará um alívio para os cofres são-bernardenses. “Obrigado, governador, por nos ajudar. Tenho certeza de que essa ajuda fará com que a gente consiga cumprir tudo o que prometemos para a saúde de São Bernardo.”
Para acabar com problemas enfrentados por São Bernardo e outros municípios do Estado, Tarcísio defende a regionalização da saúde, com o objetivo de diminuir as desigualdades e aumentar a eficiência do gasto público, ampliando a oferta de serviços e reduzindo filas de atendimento.
“Além do dinheiro, é necessário focar em gestão. Queremos que São Paulo seja vanguarda na regionalização da saúde, porque vai trazer mais eficiência aos recursos utilizados. É uma meta importante do nosso governo. Muitas vezes, os serviços ofertados não correspondem às necessidades das pessoas. Isso gera uma superlotação em alguns locais, e um grande esvaziamento em outros. É necessário escalonar isso entre os municípios para acabar com esses problemas”, declarou.
Embora as palavras de Tarcísio tenham se limitado apenas ao discurso, já que ele não concedeu entrevista coletiva devido ao horário apertado para uma outra agenda, a reportagem do Diário conseguiu fazer algumas perguntas ao governador durante a sua saída do evento.
Tarcísio garantiu que o governo estadual irá ajudar no custeio do Hospital de Clínicas Dr. Radamés Nardini, em Mauá, solicitado desde o início do ano pelo prefeito da cidade, Marcelo Oliveira (PT). “O auxílio virá junto de outros repasses que ainda vamos anunciar”, disse o governador.
Esvaziada, agenda com governador expõe isolamento de Morando
A cerimônia de lançamento do Hospital da Mulher de São Bernardo, ontem à tarde, foi esvaziada politicamente. Além do anfitrião Orlando Morando (PSDB), nenhum outro prefeito do Grande ABC esteve presente na solenidade com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Também não compareceu nenhum representante do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, o que indica o isolamento do prefeito de São Bernardo, que recentemente saiu da entidade.
Com exceção de alguns vereadores da base de Morando na Câmara, já que nem todos estiveram presentes, e dos deputados alinhados Carla Morando (PSDB), a estadual mulher do prefeito, e Marcelo Lima (PSB), o federal ex-vice-prefeito, todas as figuras políticas presentes no evento optaram por fugir dos holofotes.
Foi o caso, inclusive, do secretário de Estado de Governo e Relações Institucionais, Gilberto Kassab (PSD), que ficou no canto do palanque. Ele evitou se mostrar ao público presente, não discursou e foi embora antes do fim da solenidade – o mesmo ocorreu com os deputados estaduais Thiago Auricchio (PL) e Atila Jacomussi (Solidariedade).
Vereadores de outras cidades do Grande ABC presentes na cerimônia também preferiram ficar fora do palanque para não serem vistos ao lado de Morando. Alguns contaram ao Diário que estavam lá apenas pelas presenças de Tarcísio e Kassab.
Outro fato que chamou atenção foi o governador optar por não conceder entrevista coletiva, diferentemente do que faz em inaugurações em outros municípios. Embora tenha sido simpático com a imprensa e respondido a algumas perguntas, Tarcísio deixou o local imediatamente após a breve vistoria feita no equipamento inaugurado.
Fuzari promete fiscalizar uso da verba
Um dos líderes de oposição na Câmara, o vereador Julinho Fuzari (PSC) disse que irá fiscalizar o uso do repasse anunciado ontem pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), de quem o parlamentar é aliado.
“Primeiramente, preciso agradecer ao governador Tarcísio por salvar a saúde de São Bernardo com esse repasse. Diferentemente daqueles que agem apenas por interesse eleitoreiro, eu estou ao lado dele desde a campanha eleitoral e tenho certeza que ele ajudará muito a nossa cidade e todo o Grande ABC. Em segundo lugar, como vereador, irei fiscalizar o uso desse dinheiro por parte da Prefeitura, que tem mostrado dificuldade em administrar a verba destinada à saúde do município”, comentou Fuzari.
O legislador ainda disse que o problema da gestão Morando não é falta de dinheiro, mas sim a dificuldade em estabelecer prioridades com o gasto público. O orçamento estimado para a saúde em 2023 bate na casa do R$ 1,2 bilhão.
“Estamos vendo a saúde colapsando e a Prefeitura realizando licitações milionárias para fazer asfalto. Há uma clara dificuldade de entender o que tem de ser a prioridade. Eu espero que esses R$ 150 milhões ajudem a saúde da nossa cidade a respirar, já que a Prefeitura tem imposto dificuldades para respirar sozinha”, declarou o vereador.
Fuzari tem denunciado a falta de medicamentos e, sobretudo, de médicos, em especial de neurologistas, o que tem prejudicado pacientes de TEA (Transtorno do Espectro Autista) no município. Segundo ele, mães relatam que estão há cerca de um ano sem poder passar os filhos por consulta e, consequentemente, sem conseguir receita para ter acesso a medicamentos fundamentais para o tratamento.