São Bernardo tem a quarta maior população em situação de rua da região

O município concentra quase metade (45%) do número de pessoas que vivem nessas condições no Grande ABC

SÃO BERNARDO – Dos 39 municípios que compõem a Região Metropolitana de São Paulo, São Bernardo possui a quarta maior população vivendo em situação de rua. Com 1.091 pessoas, a cidade são-bernardense fica atrás apenas da Capital, Guarulhos e Osasco, segundo dados de maio – mês mais recente disponível – do Consulta, Seleção e Extração de Informações do CadÚnico (Cecad).

A diferença entre São Bernardo (quarta posição) e Guarulhos (segunda) é de apenas 54 pessoas. De acordo com os números do mês de abril do órgão do Governo Federal, a cidade da região ocupava no ranking a terceira colocação, com 1.143 indivíduos morando nas ruas.

O município concentra quase metade (45%) do número de pessoas que vivem nessas condições no Grande ABC – juntas, as sete cidades contabilizam 2.437 indivíduos em situação de rua. Dos dez primeiros municípios da Região Metropolitana com mais moradores nesta condição, aparecem outros dois do Grande ABC: em nono lugar Diadema (462) e em décimo Santo André (378).

Wesley Francisco Alves Lima, 40, vive há três anos nas calçadas, praças e bancos de São Bernardo. Por conta da pandemia da Covid-19, ele perdeu o emprego de ajudante de pedreiro, e sem dinheiro para pagar o aluguel encontrou na rua um lugar para viver.

Prestes a fazer sua primeira refeição do dia, às 17h, o são-bernardense contou a site DGABC, enquanto aguardava para entrar no Restaurante Popular Bom Prato, que está perdendo as esperanças, e definiu a situação em que vive como “um labirinto sem saída”.

“Nunca pensei que chegaria a esse ponto, de não ter um lugar para fazer as necessidades básicas do ser humano, como dormir, tomar banho ou ir ao banheiro. Vivo da rua e da bondade das pessoas para poder comer. Não consigo emprego porque estou sem endereço fixo, e sem emprego não consigo pagar um endereço fixo”, desabafa Lima.

Desmonte de políticas públicas nas áreas de educação, cultura e lazer pode ser uma das causas para o alto número de pessoas vivendo em extrema vulnerabilidade social em São Bernardo, conforme aponta Ariel de Castro Alves, advogado e presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) do município.

O especialista em direitos humanos cita a extinção de diversas instituições, como o Centro da Referência da Juventude, a Coordenadoria da Juventude, a Fundação Criança, instituição que promovia inclusão de adolescentes no mercado de trabalho, a Residência Terapêutica, que acolhia jovens envolvidos com drogas e a república, voltada ao atendimento de pessoas com mais de 18 anos que saiam de abrigos e da Fundação Casa e não tinham como retomar os vínculos familiares.

“Entendo que essa alta seja a consequência da desativação de vários órgãos importantes e fundamentais que a Prefeitura mantinha na área de inclusão social, principalmente voltados à juventude. Esse desmonte de programas acaba gerando a exclusão social, e isso amplia o número de jovens em situação de rua, que com o tempo vão se tornando população adulta e continuam nas ruas”, diz.

“Quem vive em situação de rua tem praticamente todos os direitos fundamentais violados, como à saúde, à moradia, à alimentação, à cultura, ao esporte, ao lazer, à educação, ao trabalho, entre outros. Essas pessoas são mantidas em condições que contrariam a Constituição, que proíbe que as pessoas sejam submetidas à situações cruéis, desumanas e degradantes, e quem vive nas ruas está sendo mantido nessas condições”, finaliza o especialista.

PODER PÚBLICO

Procurada, a Prefeitura de São Bernardo não se manifestou sobre o assunto. Em nota, o Paço diademense afirmou que o município possui, em média, 200 pessoas vivendo em situação de rua, com base no número de indivíduos que acessaram no último mês os dois albergues e o Centro Pop da cidade. “Existe uma situação de trânsito deles pelas cidades, tanto que este número diverge do que temos em nossos sistemas e do número que frequentam assiduamente o serviço”, esclarece.

A Secretaria de Assistência Social de Santo André identificou que “a pandemia de Covid-19 e a consequente ampliação da crise econômica global foram fatores que colaboraram para o aumento expressivo no número de pessoas em situação de rua em todo o país, inclusive na cidade de Santo André”, destacou a administração, que oferece serviços, como: Centro Pop, abordagem social e acolhimento pernoite.

Durante o período de baixas temperaturas, as Prefeituras da região realizam ações de busca ativa e acolhimento emergencial para esta parcela da população.

AUDIÊNCIA PÚBLICA

Na próxima quarta-feira (28), será realizada uma audiência pública sobre a violação de direitos da população de rua em São Bernardo. O evento será das 10h às 16h, na Rua Jurubatuba, número 1.610, região central, e contará com representantes da Defensoria Pública do Estado, de movimentos sociais da região, parlamentares e do padre Julio Lancellotti, conhecido por seu trabalho voltado às pessoas que vivem em situação de extrema vulnerabilidade.

O encontro é promovido pelo Movimento Nacional da População de Rua, com apoio da Pastoral do Povo de Rua e do Projeto Meninos e Meninas de Rua.

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