Em São Paulo, especialistas debatem reabilitação de pessoas amputadas

Clínicas com terapias multidisciplinares se destacam como centros de recuperação e busca por autonomia de pacientes com próteses

Arquivo Pessoal
Sergio Romaniuc, biólogo que teve braços amputados e atualmente usa próteses para membros superiores

SÃO PAULO – Profissionais da saúde estarão reunidos entre os dias 12 e 14 de abril no Congresso Brasileiro de Medicina Física e Reabilitação, que será realizado na cidade de São Paulo, no Centro de Convenções Rebouças. O evento, que vai reunir cerca de 150 palestrantes nacionais e internacionais, vai abordar aspectos como dor, tecnologias, medicina integrativa e reabilitação de amputados. Uma das questões que será exposta é o tratamento multidisciplinar e contínuo necessário para pessoas que usam tecnologias assistivas.

O biólogo Sérgio Romaniuc Neto é um exemplo de paciente que utiliza duas próteses, uma para cada braço, e que necessita de acompanhamento em clínicas especializadas com diferentes profissionais. O paciente usa os componentes após ter sofrido um acidente com descarga elétrica em 1989, durante um trabalho de campo em que precisou coletar amostras de plantas. Desde então, segundo ele, a tecnologia para membros superiores tem mostrado constante evolução. “A tecnologia tem aprimorado a qualidade de vida. Hoje em dia, pegar um copo com uso de uma prótese é muito mais fácil do que quando comecei a utilizar esses equipamentos. É semelhante ao que vemos na evolução dos telefones, cada vez mais tecnológicos e com funções que facilitam a comunicação”, afirma.

Para Sérgio, as clínicas com tratamento multiprofissional funcionam como verdadeiros centros de apoio às pessoas com deficiência que utilizam tecnologia assistiva. “Eu sempre procuro uma clínica quando preciso fazer algum reparo nas próteses, tirar dúvidas sobre novos equipamentos, quando sinto dor ou desconforto. Esses locais são como uma segunda casa para pessoas com deficiência”, comenta.

Ele ainda destaca a união de vários especialistas e o atendimento acolhedor que é necessário para os pacientes. “Não se trata apenas de um local para fazer uma prótese, órtese ou cadeira de rodas. São vários profissionais à disposição, como fisioterapeutas e técnicos. Todos nos acolhem desde o primeiro momento, nos ensinam a usar a tecnologia e nos preparam para o dia a dia com os equipamentos”, afirma.

Sérgio frequenta uma clínica da Ottobock, empresa que produz próteses, órteses e cadeiras de rodas e que estará no congresso deste fim de semana. A coordenadora de fisioterapia da empresa na América Latina, Maria Laura Pucciarelli, ressalta a necessidade de etapas para o acompanhamento da evolução dos pacientes nas clínicas. “Todos os tratamentos consideram a preparação da pessoa para adaptação ao dispositivo indicado, fase de treinamento com o dispositivo e posteriormente acompanhamento contínuo para garantir a eficiência da adaptação e a satisfação do paciente com relação ao componente”, afirma Maria Laura.

O uso de componentes com tecnologia assistiva é um processo que, em muitos casos, pode ser longo, conforme a especialista. Ela explica que, no caso de uma pessoa recém amputada de algum membro, seriam três passos para a adaptação: primeiro a fase pré-protética, na qual é necessário preparar o membro residual (a parte do corpo que, após a cirurgia, vai estar ligada ao equipamento) para receber a prótese; depois o paciente recebe um encaixe provisório, quando a pessoa é monitorada quanto ao conforto com a prótese, treinamento da marcha e suas atividades de vida diárias; e na sequência, após a adaptação e com o membro residual estabilizado, é confeccionado o encaixe definitivo.

Maria Laura ressalta que, em muitos casos, as pessoas com deficiência possuem outros comprometimentos e necessidades de acompanhamentos, além da adaptação ao uso das tecnologias. Por isso, a presença de profissionais de diferentes áreas em um mesmo ambiente torna-se essencial para a qualidade de vida dessas pessoas. Pacientes com diabetes ou hipertensão, por exemplo, precisam de acompanhamento médico e medicação em dia, e em casos de a pessoa sentir dor, segundo a coordenadora, fisiatras e fisioterapeutas possuem os tratamentos adequados, além dos técnicos protesistas, para garantir um equipamento adequado.

“A visão global e o alcance de todas as ferramentas disponíveis para o tratamento de uma pessoa com deficiência é o que garante a maior autonomia e independência possível. Essa é a importância de uma abordagem multiprofissional para as pessoas com deficiência”, esclarece.

Além disso, conforme explica a coordenadora, os pacientes podem precisar em diferentes momentos de outros profissionais como terapeutas ocupacionais, para adaptação de atividades de vida diária, e psicólogos para apoio emocional em situações de dificuldade de lidar com as mudanças acarretadas pelo uso da tecnologia. “A equipe com uma abordagem interdisciplinar consegue junto com o paciente criar o caminho o mais completo para reabilitação”, finaliza.

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